Marlboro

Na minha até então curta e pouco satisfatória carreira acadêmica no ramo da comunicação, fui martelado com a idéia de que os produtos e objetos, de uma maneira geral, assumem uma serie de funções e leituras diferenciadas numa mesma sociedade. Leituras essas que podem inclusive ser opostas ou conflitantes. Isso é o chamado Virtuosismo Semiótico.

O exemplo mais claro que tive disso em minha vivencia, foi o caso do Marlboro Vermelho, o famoso malborão. O valor atribuído pela maioria é o de um simples cigarro, como outro qualquer, só que mais forte. A mudança ocorre para uma classe muito especifica: o fumante angustiado e consciente. Uma vez inserido nesse mundo especifico, passa-se a atribuir todo um novo valor ao mata-rato. Nessa visão, o homem que escolhe fumá-lo parece carregar o fardo com mais graça, pois mergulha no poço de merda de cabeça, ciente do que vem. Para os cheios de angustia que escolheram uma morte só um pouco mais lenta, fumar um malborão, ou a sua versão mais drástica, comprar um maço de Marlboro Reds, é mais do que simplesmente consumir outro tipo de cigarros. É em certo ponto fazer a escolha de que naquele momento de pura reflexão, algo em você deve morrer.

Hoje, como todos os dias, é dia de crise. E hoje não vai ser lembrado, como tantos outros dias não serão. Mas hoje, eu comprei um maço. E depois de tê-lo pensado inteiro resolvi que já era hora de passar pra frente todo o conhecimento que a Acadêmia me forneceu: cinismo e poucas palavras.